O dia nasce sem pressa nas dunas de Massarandupió. A “Brisa” que me envolve se confunde com a do mar, que sopra como um sussurro ancestral, acariciando os contornos suaves da areia, que ainda guarda o calor do dia anterior. Os primeiros raios de sol não iluminam apenas a paisagem, pois eles despertam uma memória antiga, adormecida dentro de nós. Algo sagrado com certeza pulsa ali, entre o silêncio do céu que se abre em cores e o balé dos coqueiros que se curvam com reverência ao novo dia.
Estar ali, ao amanhecer, é mais do que testemunhar um espetáculo da natureza. É ser parte dele. A exuberância que se revela nas dunas, nuas, vastas, livres, é um espelho daquilo que somos quando despimos as armaduras do mundo. Quando deixamos para trás o peso dos papéis sociais, dos nomes, dos títulos, das expectativas. Quando, enfim, nos reconhecemos apenas como presença. Corpo, respiração, pulsação.
Massarandupió nos acolhe sem exigir nada. O vento não pergunta de onde viemos, o mar não cobra explicações, a areia não julga nossos passos. E nesse acolhimento puro, nos lembramos: nós também somos natureza. Nós também somos esse sopro, essa dança, esse infinito. Ali, no silêncio dourado que antecede o nascer pleno do sol, percebemos o que tantas vezes esquecemos, que somos centelhas divinas, faíscas do mesmo fogo criador que fez o mar e o céu.
Há algo de profundamente generoso no encontro entre a natureza externa e a nossa natureza interna. É como se, por um instante, tudo se alinhasse: o ritmo do coração com o das ondas, o calor da pele com o calor da luz que se insinua no horizonte. E nesse alinhamento, desabrochamos. Nos reconhecemos. E amamos.

Amamos a vida sem precisar entendê-la. Amamos o outro sem querer moldá-lo. Amamos a nós mesmos, enfim, com uma ternura que nasce da simples constatação de que somos parte do milagre. Não há mais separação entre o “eu” e o “todo”. Somos o próprio “poder do êxtase” da criação, celebrando a si mesma.
O amanhecer nas dunas de Massarandupió não é apenas um início de dia, é um renascimento. Um lembrete de que a liberdade é o nosso estado natural, e que o amor, o mais puro, é aquele que se vive no agora, sem medo, sem “posse”, sem “vergonha”.
Ali, entre o céu e o mar, somos inteiros. E isso basta.
Com Axé:
Mestre Jean Pangolin