Entre Céu e Terra: Minha Experiência com a Ayahuasca no Ecoparque da Mata

Nem tudo se explica com palavras. Algumas experiências são como sementes que germinam no tempo do silêncio. Foi assim meu encontro com a Ayahuasca, a medicina ancestral dos povos originários, em um ritual realizado na Aldeia da Mata, aqui mesmo em Massarandupió.

No último sábado do mês, em meio ao sagrado círculo da floresta, vivi algo que não cabe em frases curtas. Mas aqui estou, tentando compartilhar, com o coração ainda vibrando, o que vi, senti e compreendi sob a luz das estrelas.

O Chamado: quando a floresta sussurra seu nome

Tudo começa muito antes de entrar na roda. A Ayahuasca nos chama — não o contrário. Para participar do ritual da Aldeia da Mata, é necessário ser indicado e entrar na lista. Cada nome tem um tempo. E o meu, enfim, foi chamado.

O ritual acontece sempre no último sábado do mês. Às 18h em ponto, todos já estão agasalhados (sim, faz muito frio), reunidos, em círculo. O cheiro de incenso e mato molhado prepara o ambiente. A noite se aproxima, e com ela, o invisível também se manifesta.

A cerimônia: silêncio, medicina e fogo

A fogueira arde bem ao lado da tenda. As pessoas ao redor seguram maracás, flores ou simplesmente a si mesmas. A bebida sagrada é servida com reverência — Ayahuasca, ou Nixi Pãe, como é chamada por algumas etnias. Um líquido amargo, denso, ancestral.

Os cantos começam suaves, como sussurros. Depois, ganham força. A medicina age de forma única em cada um. Para alguns, visões; para outros, lágrimas. Há quem precise vomitar, quem dance, quem apenas se cale e ouça.

Eu vi o tempo se dobrar. Senti o peso dos meus medos sendo dissolvidos. Senti também algo que ainda não sei nomear — talvez a presença do sagrado.

Entrei num túnel do tempo colorido, fui até minha infância, senti o aperto da mão de minha mãe me deixando na escola. Viajei até a adolescência, senti amor e decepção. 

Entre revelações e curas silenciosas

A Ayahuasca não nos dá o que queremos, mas o que precisamos. Não é alucinógeno, é expansão. E a expansão dói — como todo nascimento.

Naquela noite, compreendi coisas que estavam em mim, mas estavam cobertas por camadas de pressa, ruído e ego. A medicina me levou ao encontro do essencial. Me lembrou que a cura começa quando nos tornamos verdadeiros.

A cerimônia terminou por volta da meia-noite. O céu estrelado, o fogo agora quase cinza, e os olhares de quem havia atravessado um portal e retornado com algo novo dentro de si. Todos em volta de uma mesa apreciando uma sopa quente, feito ali mesmo na cozinha do parque.

Se você também sente o chamado…

A Aldeia da Mata não é um espaço comercial. É espiritual. E como toda medicina sagrada, a Ayahuasca exige preparo, respeito e intenção clara.

Se você deseja participar, saiba que o ritual ocorre sempre no último sábado do mês, com início às 18h e término próximo à meia-noite. A entrada é feita apenas por indicação, e cada participante deve entrar em uma lista previamente organizada, passar por uma anamnese inicial e só depois é liberado para participar.

Não se trata de “experimentar uma substância”. Trata-se de encontrar o que há de mais humano e mais divino em você.

A floresta ensina: com paciência, silêncio e verdade

O que aconteceu naquela noite ainda se desdobra dentro de mim. A Ayahuasca não acaba quando o ritual termina. Ela continua — em sonhos, em intuições, em escolhas mais conscientes.

Talvez você também esteja ouvindo esse chamado. Talvez a floresta esteja sussurrando seu nome. E se for o seu tempo, você saberá.

Como a Ayahuasca age no corpo e na mente: o papel do DMT

Do ponto de vista científico, a Ayahuasca é uma combinação de duas plantas: o cipó Banisteriopsis caapi, que contém inibidores da enzima monoamina oxidase (IMAOs), e folhas da Psychotria viridis, ricas em DMT (dimetiltriptamina) — uma substância naturalmente presente no corpo humano e em diversas espécies vegetais, também conhecida como a “molécula do espírito”.

O DMT, quando ingerido isoladamente, é rapidamente degradado pelo nosso organismo, tornando seus efeitos quase nulos. No entanto, os IMAOs presentes no cipó inibem essa degradação, permitindo que o DMT atue por mais tempo no sistema nervoso central. Uma vez ativo, o DMT interage com receptores serotoninérgicos do cérebro, especialmente o receptor 5-HT2A, alterando a percepção de tempo, espaço, emoções e consciência.

Esses efeitos são descritos por muitos como experiências de transcendência, autoconhecimento profundo ou conexão com o sagrado. Estudos neurocientíficos apontam que a Ayahuasca pode induzir estados de hiperconectividade cerebral e estimular áreas associadas à introspecção, à empatia e à regulação emocional — o que ajuda a explicar seu uso terapêutico em contextos de depressão, traumas e ansiedade.

Fonte: Tiago Silva – Psicologia e Hipnose Clínica

Compartilhe